Miracema, 1979
Nós, os sapiens homens, já não somos mais capazes de fazer voar no espaço
um som de garganta, há uma baba viscosa e cheia de nomes
a escorrer de um dos cantos da nossa boca.
Velha gosma onisciente
que tudo agarra e cola e gruda e guarda em sua matéria densa e louca!
Essa ameba se arrasta do lado de fora paralisando a frase em qualquer altura,
ronda a nossa boca mentindo a nossa história mais pura.
Um tocaia atento, e que jamais se afasta,
espreita como um vento, uma brisa eterna, a toca, a entrada escura,
estreita, dessa caverna vasta onde a palavra mora.
Geléia nojenta que pensa e sabe que não é pouca
aguarda sem pressa
a hora em que saia a sua presa.
Caldo sem forma e sem cabeça, baba imunda
bêbada pasta que dura sempre e não se gasta, não se acaba nunca.
Obs.: este poema foi publicado na revista Rubedo
Nenhum comentário:
Postar um comentário