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Breve estória de uma galinha paranóica

Publicado em Crônicas
Itambi, 1983


Uma incômoda suspeita amadureceu lentamente sobre uma das dezesseis galinhas do Galinheiro Azul. Ela dormia menos a cada dia que passava, e ouvia mais. Identificava todos os barulinhos da noite, sentia no ar um perigo de morte. Um gavião talvez não se anunciasse como os outros e atravessasse a tela de arame, talvez um cachorro-de-dentes-de-sabre destroçasse as madeiras da cerca, ou um rato esperto saísse de algum buraco... Ela não sabia.

As outras galinhas pareciam não se incomodar. Era ótimo aquele galinheiro, cheio de milho e água fresca, e terra boa de ciscar e sombras de adormecer. Sentiam-se soltas e felizes.

A galinha assustada granjeou (êpa!) um fama de chata alucinada. O papagaio que vivia a resmungar na varanda da casa, chegou a dizer um dia, com aquele ar de país neutro, que ela era uma paranóica!

Num desses domingos maravilhosos, dia de aniversário e festa na família, o dono do Galinheiro Azul acabou com esta nossa estória.

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