Páginas

Estranha janela é o mar aberta completamente

Publicado em Poemas
São Gonçalo, 1981


1

Estranha janela é o mar
aberta completamente.
Em noite de tempo bom,
varanda de areia e pedra,
eles se deitam na terra,
se impregnam de vento e som.

Estranha janela é o mar
aberta completamente.
Tudo parece que dorme,
nada se mexe revolto,
à volta tudo é enorme,
calmo, vazio e tão solto.

Estranha janela é o mar
aberta completamente.

2

Pr mais que se abracem e cansem
um homem e sua mulher,
sem perderem uma sequer,
apegam-se a todas as chances.

Na praia fizeram uma casa:
paredes feitas de nada,
por fora passa a estrada
que por dentro também passa.

Não há teto, cantos, beiras,
nem coisas novas, nem mofo,
almofadas só de chão fofo,
e tendo a grama de esteira.

E dançam, bebem e comem
e vão depois ao quintal
nús, e no chão há um jornal
por onde os dois se amam e somem.

E vão-se assim pelo ar
qual um navio à toda vela
atravessando a tal janela
que todos querem encontrar.

3

Estranha janela é o mar
aberta completamente.
Os deuses se ocultam sempre
mas dela se pode espiar.

Estranha janela é o mar
aberta completamente.
Reunindo toda a gente
e obrigando a navegar.

Estranha janela é o mar
aberta completamente.
Como se toda essa gente
pudesse lhe atravessar.

Estranha janela é o mar
aberta completamente.
O medo é o que todos sentem
diante de tanto mar.


Nenhum comentário:

Postar um comentário